Metaplasia escamosa em mucosa traqueal secundária a intubação crônica; metaplasia óssea em cartilagem
Lam. A. 211 B
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Nestas lâminas de traquéia, provenientes de um único caso, temos dois exemplos de metaplasia em tecidos diferentes - a metaplasia escamosa do epitélio respiratório e a metaplasia óssea em anéis cartilaginosos.  Metaplasia é a transformação de um tecido em outro de mesma linhagem, secundária geralmente a estímulos inflamatórios ou irritativos crônicos. Esta traquéia foi retirada de um paciente que ficou intubado por algumas semanas. A pressão e atrito levaram à substituição do epitélio traqueal normal, que é do tipo cilíndrico simples pseudoestratificado ciliado (mais frágil), por epitélio plano estratificado corneificado, que é mais resistente. Este assemelha-se ao epitélio normal da pele, mas com alterações patológicas, como a hiper- e a paraceratose. Há também áreas de metaplasia óssea da cartilagem traqueal, não relacionada à metaplasia epitelial. Ver outro exemplo de metaplasia escamosa na traquéia, esta associada a paracoccidioidomicose. 
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Destaques  destas lâminas:
Lâminas escaneadas   de traquéia normal, com metaplasia escamosa e metaplasia óssea Traquéia normal. Epitélio respiratório Glândulas da submucosa
Infiltrado inflamatório  Cartilagem hialina  Traquéia com metaplasia escamosa
Hiper- e paraceratose Camadas basal e espinhosa Desmossomos
Traquéia com metaplasia óssea Tecido ósseo metaplásico Medula óssea funcionante
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Lâminas escaneadas
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Lâmina 1. Traquéia normal.

Nesta lâmina escaneada,  observa-se a estrutura da traquéia em área normal, sem metaplasia. Vê-se o anel cartilaginoso que dá suporte à traquéia em grande parte da circunferência, exceto na face posterior. Na mucosa, observa-se o epitélio de revestimento e, na submucosa, as glândulas. A camada externa aos anéis é a adventícia (tecido conjuntivo fibroso).  Clique para detalhes

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Lâmina 2. Traquéia com metaplasia escamosa.

Nesta outra lâmina do mesmo caso, há substituição de trechos do epitélio cilíndrico por epitélio escamoso, que chama a atenção por ser mais róseo. Este corte passou pelo espaço entre dois anéis cartilaginosos, por isso a cartilagem aqui é pouco representada.  A fibrose vista à esquerda é secundária também à longa intubação. Clique para detalhes

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Lâmina 3. Traquéia com metaplasia óssea.

Esta última lâmina contém um segmento de cartilagem com focos de metaplasia óssea, inclusive com medula óssea funcionante. Esta ocorre normalmente com a idade nos anéis traqueais e na cartilagem da laringe, e pode levar a extensa ossificação. Não tem a ver com a intubação crônica, como a metaplasia epitelial acima.  Clique para detalhes.

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Lâmina 1. Traquéia  normal  com  epitélio  do  tipo  respiratório.
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Nestas panorâmicas,   observa-se a mucosa traqueal revestida por epitélio simples pseudoestratificado cilíndrico ciliado (clique para detalhes) apoiado sobre a lâmina própria, com infiltrado inflamatório crônico linfocitário.  Algumas fibras musculares lisas são vistas na profundidade.   O epitélio é constituído por uma monocamada de células cilíndricas altas, que exibem cílios na superfície luminal. Os núcleos estão em diferentes alturas, dando a falsa impressão de que se trata de mais de uma camada (daí o termo pseudoestratificado). As células estão apoiadas sobre membrana basal, uma fina camada de material glicoproteico sintetizada por elas próprias, que aparece rósea em HE. Seria melhor demonstrado em PAS. 
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Glândulas.   Glândulas seromucosas são observadas na submucosa. As glândulas mucosas são constituídas por células de citoplasma claro. Nas glândulas serosas o citoplasma é róseo mais forte. Num mesmo ácino podem ser vistas células dos dois tipos. 
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Infiltrado  inflamatório.   Infiltrado inflamatório linfoplasmocitário permeia entre os ácinos glandulares. No presente exemplo há predomínio dos plasmócitos, com seu citoplasma abundante e basófilo e núcleo excêntrico. O núcleo, em aumento forte, pode revelar grânulos de cromatina na face interna da membrana nuclear, classicamente comparados a 'roda de carroça' (característica dos plasmócitos). O citoplasma é basófilo porque é riquíssimo em ribossomos e retículo endoplasmático rugoso, responsável pela intensa síntese de anticorpos nestas células.  Para um plasmócito em microscopia eletrônica, clique. 
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Cartilagem  hialina.    Os anéis que circundam parcialmente a traquéia são um exemplo de cartilagem hialina, semelhante à encontrada nas articulações sinoviais.  As células (condrócitos) ficam embutidas em abundante matriz proteica secretada por elas próprias, que contém proteoglicanas especiais conferindo firmeza, elasticidade e flexibilidade à cartilagem.  O termo 'hialino' vem da palavra grega hyalos, que significa vidro e diz respeito ao aspecto homogêneo da matriz. 
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Lâmina 2.  Traquéia   com  metaplasia  escamosa  do  epitélio  de  revestimento 
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Metaplasia escamosa. 

Em áreas onde houve atrito e compressão pela cânula, o epitélio cilíndrico simples transformou-se em plano pluriestratificado com queratinização. Isto ocorre por alteração na transcrição gênica das células epiteliais, não por mutação. 

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Metaplasia escamosa.  As células de revestimento são poligonais, variando de mais cilíndricas na região basal a mais pavimentosas na superfície. O citoplasma é fortemente róseo devido à abundância de queratina, um filamento intermediário do citoesqueleto próprio das células epiteliais. Para mais sobre filamentos intermediários, clique. O aspecto geral do epitélio passa a ser muito semelhante ao da mucosa oral e até da pele, do qual difere pela ausência de anexos (folículos pilosos e glândulas sudoríparas e sebáceas). 
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Hiperceratose.   Refere-se ao acúmulo de células queratinizadas anucleadas na camada superficial do epitélio. Ver exemplo em pele (caso de cromomicose). 
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Paraceratose.   Quando as células sofrem queratinização do citoplasma, mas restam núcleos picnóticos, fala-se em paraceratose. Os fenômenos são análogos aos que se observa na pele e em outras mucosas, como o colo uterino
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Camadas basal e espinhosa.   As regiões mais profundas do epitélio metaplásico são inteiramente semelhantes às da pele. Na camada basal, as células dispõem-se em paliçada, o citoplasma é mais escasso e os núcleos ovalados. Na camada intermediária, espinhosa ou de Malpighi, as células são poligonais, com abundante citoplasma róseo e núcleos arredondados com nucléolo evidente. Chama logo a atenção que os limites celulares são nítidos e com aspecto estriado, daí o termo 'espinhoso'. Estas espículas se devem aos desmossomos, junções intercelulares que conjugam filamentos de queratina de células vizinhas para dar resistência física ao epitélio. Para mais sobre desmossomos em outros preparados, clique (1)(2)(3)(4). Textos sobre junções intercelulares e filamentos intermediários do citoesqueleto. 
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Camada espinhosa. - Desmossomos.    O aspecto finamente ranhurado do contorno das células espinhosas deve-se aos desmossomos, junções intercelulares de ancoragem que conectam feixes de filamentos intermediários (no caso, citoqueratinas) de células vizinhas.  Na doença dermatológica chamada pênfigo foliáceo, há formação de bolhas  abaixo da camada córnea, devido à lesão dos desmossomos e conseqüente perda da adesividade das células epidérmicas.   Uma mitose típica (placa metafásica) foi encontrada na camada basal. 
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Lâmina 3.  Traquéia  com  metaplasia  óssea  em  anéis  cartilaginosos
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Metaplasia  óssea.    Nos campos abaixo, observa-se substituição da cartilagem hialina dos anéis de suporte da traquéia por tecido ósseo esponjoso, inclusive com medula óssea funcionante.  O fenômeno é análogo à metaplasia dos epitélios vista acima, mas ocorre entre tecidos conjuntivos (tecido fibroso, cartilagem e osso), portanto da mesma linhagem. É um fenômeno natural da idade, e não relacionado ao trauma da intubação.  Para uma peça de metaplasia óssea em cicatriz fibrosa, clique
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Tecido ósseo.     O tecido ósseo maduro é formado por matriz óssea, que é constituída por proteínas (colágeno e proteoglicanas) adequadas à deposição de sais de cálcio (mineralização). Aqui o cálcio foi retirado por descalcificação, de outra forma não seria possível obter cortes histológicos.  A matriz é depositada por osteoblastos, células especializadas, análogas aos fibroblastos. Ao secretar as proteínas da matriz, são envolvidas por ela, ficando totalmente embutidas, daí passam a chamar-se osteócitos. Para mais sobre osteoblastos e osteócitos em processos patológicos, como consolidação de fraturas, clique. 
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Medula óssea.     O processo metaplásico pode chegar à produção de medula óssea funcionante nos espaços medulares do osso neoformado.  É o que se observa neste espécime, onde o interior do osso é preenchido por adipócitos e células das três linhagens hemopoiéticas - vermelha, branca e plaquetária. Para mais sobre medula óssea normal, clique
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Agradecimento.    Preparações histológicas pelo técnico Guaracy da Silva Ribeiro. 
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