FEBRE
REUMÁTICA E LESÕES NO ENDOCÁRDIO VALVAR
A febre reumática tem origem em uma infecção, geralmente
da garganta (faringites, amigdalites) ou da pele (piodermites) por um estreptococo
b-hemolítico
do grupo A. Antígenos da parede da bactéria causam a formação
de anticorpos, que reagem de forma cruzada com antígenos do coração,
resultando em focos inflamatórios nas três camadas do órgão.
Fala-se então em pancardite reumatismal, uma somatória
de pericardite, miocardite e endocardite (ver estas lesões
na lâmina A. 181). As lesões
não são causadas por bactérias agindo diretamente
nos tecidos do coração.
No endocárdio, as lesões mais importantes ocorrem no endocárdio
valvar. A reação antígeno-anticorpo a nível
do tecido (reação de hipersensibilidade do tipo
II) leva a fixação do complemento, com lesão
tecidual e liberação de frações quimiotáticas
para neutrófilos e macrófagos. Os macrófagos fagocitam
o material fibrinóide formando granulomas, conhecidos como nódulos
de Aschoff (lâmina A. 181). Posteriormente,
as lesões inflamatórias diminuem em intensidade. Há
formação de tecido de granulação e cicatriz
fibrosa (portanto, processo de reparo). A cada nova infecção
pelo mesmo germe, repete-se o ciclo e a fibrose valvar se agrava.
Na valva mitral, há espessamento e encurtamento, tanto das
lacínias como das cordoalhas tendíneas. Os pequenos trombos
que se formam durante a fase aguda sobre o endocárdio lesado também
sofrem organização e contribuem para a fibrose. A nível
das comissuras (isto é, onde a borda da lacínia chega até
o anel de inserção da valva), a fibrose leva a fusão
das lacínias. A longo prazo, a valva mitral sofre a chamada disfunção
completa: há estenose e insuficiência, ou seja,
a valva nem abre bem na sístole, nem fecha completamente na diástole.
Das duas, a estenose é que predomina. A valva com as lacínias
fundidas tem um orifício central comparável a uma casa de
botão, e sua área livre é só uma fração
da original. A retração das cordoalhas puxa a valva para
baixo, em direção do ventrículo, dando-lhe aspecto
em funil (ver peça C-11). A dificuldade
da passagem para o ventrículo leva a represamento do sangue
no átrio esquerdo, com dilatação que pode ser enorme
(ver peça C-28A), lentificação
de fluxo e trombose.
Na valva aórtica as alterações são essencialmente
semelhantes. Há também fibrose e retração das
lacínias (levando a insuficiência) e fusão das comissuras
(levando a estenose). As valvas direitas são menos acometidas.
Das duas, as lesões predominam na tricúspide. Alterações
na valva pulmonar são raras. |